sábado, dezembro 05, 2009

These are my twisted words



Do pensamento à palavra, da palavra à escrita. Gostava de ter um cabo que conduzisse o meu pensamento directamente ao computador, que este fosse capaz de o traduzir sem que tivesse que escrever, ou ouvir os meus dedos a bater no teclado. O pensamento surgiria de forma genuína e crua, tal como ele é.

A minha voz pensante não se cala. Ora é razão, ora esquecimento. O meu pensamento é traiçoeiro, não me deixa ver para além daquilo que sou. Ou talvez seja eu que imponha essa restrição. Sou eu sim! Tenho medo de me descobrir, dar asas ao podre existente em mim. Prefiro recalcá-lo e mantê-lo na sombra.

Tentar ser honesta com o meu pensamento não é fácil. Deveria ser. O pensamento é uma forma de introspecção que nos ajuda a conhecer melhor. Mas tal como temos receio de mostrar-nos quem realmente somos, também temos medo de saber quem somos.

O refúgio do pensamento. Onde que será que ele mora? Num local acomodado bem refastelado?! Não sei. Mas sei que ele é preguiçoso e perigoso.

A minha escrita por vezes fugaz e condensada retrata a realidade que me inquieta. Sinto a necessidade de resumir o acontecimento de forma a não expô-lo livremente, nem a dar por mim a pensar nele.

O meu pensar, é o meu sonhar, não é um sonho com objectivos, nem algo a concretizar, o sonhar como forma de pensamento e de ver a vida. Um padre amigo um dia, olhou para mim, e sem nada dizer-lhe, exclamou: ‘és uma sonhadora’.

Sentir a minha essência, o meu estado profundo, é como ter vontade de beber água, ou de saciar a minha fome, sem esta sinto-me nua e vazia.

O meu eu já passou por varias fases, a mais significativa, o antes e pós Lisboa. O antes caracterizado por uma adolescência retardada, que me colocou em conflito existencial, em pensamentos destrutivos e taciturnos. O lado erótico, esse participa em todas as fases, algo intrínseco a mim, que me desperta desde miúda. Tinha uma visão ingénua e excitante do sexo. Sem saber como se fazia, gostava de ver os filmes na 2, nas ‘Cinco noites, Cinco filmes’. Colocava a televisão bem baixinha, para os meus pais não ouvirem, e ia explorando uma nova realidade que me despertava o pensamento. Embora precoce, tardia na acção.

Encontro-me perdida, numa existência em que o sentir se sobrepõe à acção mecânica do agir.

Sentindo dicotomias adversas no espaço mental, que habita num universo emergente havendo necessidade de explorar uma nova direcção viável ao conhecimento.

Termos descomplexados surgem em cada linha desta criação. Um pouco vaga, talvez. Inconsciente. São palavras sem expressão.

O rosto que se desfigura na minha mente, não se coaduna à imagem que traduzo do meu ser, imagens implacáveis que rodeiam a carnificina numa rotina incauta, descortinam no acto de agir.

Rogo ao sentir, sou um desdém de loucura. Convirjo num diálogo (des) complexado cansada de me ouvir.

Sou um olhar lascivo que se traduz na voracidade de contemplar um homem ou uma mulher de forma distinta. Consciente do meu desejo, gosto de apreciar o feminino. Como mulher identifico-me na sensibilidade, nas curvas que ladeiam a feição que me move.

Apraz-me o ser masculino, a ambiguidade que nos aproxima, as hormonas a destilarem sobre os olhares acesos extorquindo a paixão. Sim, olho para ti. Descobri Lisboa em ti, a cidade que dançava sobre a música que ouvíamos, tornando-se mais luminosa ao acordar.

O Tejo que se dissipava em mim e cuja essência não compreendida, hoje faz-me sentir livre.

A cidade, os copos, e o Bairro alto. As mentes promiscuas que percorriam a noite enferma tornavam-se antagónicas do dia para a noite.

Falo para mim, e adormeço.

Se as palavras retocam o que se vê, então não quero exprimir-me em palavras, mas em sentimento.

5 comentários:

Pearl disse...

Porquê podre!?
Isso deixou-me apreensiva.
Na blogoesfera existem de tempos em tempos boas surpresas e tu foste uma delas...adorei ler-te.

Quanto às dicotomias, minha cara ainda agora começaram, quanto mais mergulhares mais dicotomias encontrarás afinal és mulher...

Guardei-te...nos favoritos.

beijos

Summerparis disse...

Pearl, por vezes emergem-se vontades que a racionalidade deturpa, ou simplesmente ignora.
O desejo permanece, o corpo suspira, e a mente adormece em vão.

Pearl disse...

Cara SummerParis,



a racionalidade será sempre um travão para nos proteger, saberás que quanto mais protegida menos vives.
Cabe-nos a nós regular essa racionalidade que por vezes se torna castradora. Eu considero-me uma pessoa racional, então quando a minha racionalidade se quebra a adrenalina surge...é bom.

Essas vontades merecem atenção, põe um pouco de pause na razão, e sê irrazoavel...sou um bocadinho.

A mente não dorme, jamais.

beijos

Summerparis disse...

Pearl,

A mente quando dorme, sonha.
É bom mergulhar nessas vontades emergentes, no desdenhar de cada frémito que sente ao ser libertina.
O desejo, como um espasmo, involuntário, prazenteiro, e volátil. Sinto-me

Pearl disse...

Sentes-te e sentes-te bem, só apartir do próprio sentir te podes dar a sentir...eu, vivo de dentro para fora.

Que se tatuem na pele esses espasmos, que sejam percursos de tudo o que desejas e vais desenhar.

ah e um beijo